Projeto: você sabe o que é? 
Alguns conceitos e dicas que podem te ajudar...

Veronica Cabral de Oliveira

A noção de Pedagogia de Projetos não é uma idéia nova   , como nos lembra bem a professora Lúcia Helena Alvarez Leite[1]. Desde a escola filosófica de Pragmatismo (essencialmente “fundada” por Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey – e este mais especificamente importante neste processo) no início do século que se discute uma forma mais democrática e significativa de ensinar. Sues objetivos iniciais: uma educação capaz de incentivar o desenvolvimento de raciocínio lógico e consciência crítica no aluno.

Mas o que é projeto?
          Muito bem, vamos começar colocando os devidos “pingos nos is”. Primeiro vamos definir a palavra Projeto. Para isso vamos procurar no dicionário, nosso famoso Aurélio:
“Projeto: sm. 1.Plano,intento. 2. Empreendimento. 3. Redação preliminar de lei, de relatório, etc. 4. Plano geral de edificação.”
         Ou a definição do Priberam (dicionário da língua portuguesa on line):
s. m.1. O que planejamos fazer. 2.  Desígnio, tenção, plano, empresa, cometimento.3.  Primeira redação de uma lei, estatutos, etc., que se submete à aprovação.4. Constr. Plano gráfico e descritivo.”
         Ou seja, o projeto é uma atividade intencional, que parte de uma “necessidade” e interesse geral, que tem um objetivo inicial, um desenvolvimento e um resultado final, que é planejada que tem uma escrita própria, descritiva e funcional e é sujeita a uma aprovação.
         Em educação dizemos que trabalhar um projeto é trabalhar as mais variadas competências, necessidades e interesses de um aluno baixo determinado tema, e movimentar a maior quantidade de recursos possíveis, qualitativamente e significativamente, em prol de uma maior abrangência educacional. Voltando ao exemplo da gramática: o fato de que na gramática estão todas as regras formais de sintaxe não significa que minha aula tenha que basear-se somente na leitura desta
         Destrinchando a seqüência de termos apresentados, podemos vislumbrar as diversas características de um projeto, para entender como ela funciona na prática educacional:

                     É uma atividade intencional...
                 Quer dizer: um projeto não parte do nada! Ele parte da vontade de fazer ou estudar alguma coisa. Precisa de foco. Um engenheiro quando projeta um prédio ele desde logo põe na cabeça que quer fazer um prédio e não uma casa. Ele tem a intenção de fazer este prédio e vai colocar todos os seus esforços, conhecimentos e pesquisas para a construção deste prédio. O mesmo acontece com o professor: se a intenção é estudar formigas vali colocar sua predisposição a estudar formigas, e não aranhas (as aranhas podem entrar como fundo para comparação, - outros tipos de insetos artrópodes, por exemplo-, mas não será o carro chefe do projeto).
          Mas o que provoca a intenção? De onde ela parte?

                ...que parte de uma necessidade e interesse geral...
         Dizer que o projeto não pode sair do nada, muitas vezes assusta o professor, que se pergunta: De onde que eu vou tirar tanta originalidade para fazer um bom projeto com meus alunos? Pior, com a demanda de conhecimentos que tenho que ministrar vários projetos?
          A resposta é a mais simples: da necessidade e do interesse de seus alunos. Cada idade e cada contexto social têm suas necessidades, que algo sim, são fixas. Dizer que há uma necessidade que pode ser vista com modelos fixos pode parecer meio tradicional (e reconheço é um pouco sim), mas funciona. Por isso dizer: ensinar gramática é uma coisa retrograda (e escuto muito isso!) porque não falamos assim como está escrito nos livros pode não corresponder a uma real necessidade destas crianças na sociedade, que vai cobrar delas – e muitas vezes de forma excludente-, um conhecimento “mínimo” da escrita formal. Mas para não transformar os projetos em algo autoritário, de mando único e exclusivo do professor é que incluí em nossa terminologia a palavra interesse. As necessidades podem e devem ser trabalhadas a partir de interesses dos alunos. Por isso podemos saber que é necessário que os alunos conheçam a escrita formal e as regras de sintaxe, formalmente falando, mas isso não significa que tenha que ensinar-los lendo e relendo a gramática. se eles gostam de música, pode ajudá-los a entender como funciona nas músicas que gostam de ouvir e introduzir outras músicas no campo informacional de seu aluno.(Exemplo: eles gostam de funck ou rap, estude a sintaxe a partir deste funck ou rap mas mostre a eles outras músicas que abordem o mesmo tema para criar não só diversidade mas também consciência crítica).
         Para isso é preciso conhecer seus alunos. (Um bom começo pode ser um projeto para conhecer seus alunos: De onde eles vêm, o que eles gostam, o que fazem em casa, o que é de seu interesse comum, como música, filmes, etc.).
         Os interesses são variados, mas devem ser incentivados dentro do projeto reunindo-os sob um interesse comum. Assim voltamos ao exemplo do prédio do engenheiro: ele sabe que precisa construir um prédio e que tem por seus esforços na sua execução, mas sabe sua demanda são de compradores que tem necessidades e interesse de apartamentos menores e outros de apartamento familiares, então ele vai planejar um prédio que comporte de forma harmônica as duas necessidades construindo uma região do prédio com apartamentos de um, dois e três quartos. O mesmo com o professor que vai abordar o tema das formigas: alguns podem querer estudar as aranhas o que deve ser incentivado, mas com cuidado para não perder o foco com o projeto inicial das formigas. Se for o caso mude de projeto, planeje outro, ou faça dois projetos simultâneos e tente integrar-los. Mas lembre-se , todo projeto...

                ... tem um objetivo inicial, um desenvolvimento e  um resultado final
         Lembre-se, no entanto de dar um desfecho ao seu projeto: há muitas pessoas que dizem que se um projeto não dá certo, você deve simplesmente abandoná-lo. Eu não estou de acordo. Sente com seus alunos. Converse e veja até onde prosseguiram com ele e discutam para ver si o resultado final correspondem a objetivo inicial e si é de vontade da turma prosseguir ou não com ele e de fato começar outro. Na minha experiência profissional, tenho visto que muitas vezes depois de uma discussão destas as crianças geralmente não abandonam o projeto, tem a tendência a querer terminar: diminuindo ou às vezes mantendo o objetivo inicial. Mas o tema que surgiu no meio não é abandonado sendo, geralmente, tema do próximo projeto ou de um projeto simultâneo.
         Isso acontece quando eles se enfrentam com o desenvolvimento do mesmo. Muitas vezes eles conseguem ver que algo não foi bem trabalhado ou que não esta de acordo com o objetivo inicial. e que algo que foi planejado não foi cumprido.
         E falando em atividade cumprida ou não, isso somente é possível si você se lembrar que um projeto é uma atividade...  
                ...que é planejada...
         O planejamento é algo fundamental no desenvolvimento de seu projeto. Em nossas cabeças quando imaginamos um projeto podem se passar duas coisas: ou não vir nada, e assim temos que buscar informações, ou vir de tudo. Nas duas hipóteses é preciso organizar idéias. E para isso existe planejamento. Se quero estudar formigas e não sei nada sobre elas, a não ser que gostam de doces, tenho que me informar para saber mais. Daí, saberei o que posso passar a meus alunos. Dentro disso, agregar os conteúdos programáticos (parte fixa) e saber que recursos estão disponíveis para por meu projeto em prática. Voltemos ao exemplo das formigas: se digo que as formigas vivem em sociedades, faço uma escenificação com as crianças e logo os levo a um “formigário” (em Belo horizonte há um gigantesco no museu de história natural da UFMG que fica no bairro Horto). São coisas que tem que estar em meu planejamento e constituir um plano de ações e intervenções pedagógicas. Para isso, ajuda bastante escrever os passos a serem desenvolvidos no projeto. E ai entra em cena a escritura do projeto...
                ...que tem uma escrita própria, descritiva e funcional...
         A escrita do projeto deve ser um facilitador no trabalho do professor e não um escravocrata do mesmo. O que quero dizer é que o planejamento dever ser escrito para organizar as idéia do professor de modo que ele não se perca e que sirva para ele de registro, documentando experiências que serão usadas no futuro. está para o professor como um guia, não como um modelo a ser seguido cegamente. a prova disto é que podemos agarrar um projeto de outro professor que tem o mesmo tema que o nosso ( e não há nada de errado em usar experiências que deram certo) mas geralmente temos que fazer muitas mudanças nas particularidades e as vezes até na escrita , porque uma escrita própria atenderá melhor aos meus propósitos .
         Resumindo sua escrita vai imprimir no seu projeto algo que sua individualidade e de seu trabalho pessoal no decorrer das atividades. (Ao final, colocarei a disposição alguns modelos organizacionais de escrita de projetos, ou seja, uma relação textual formal da escrita de projetos).
         O ato de escrever um projeto, de colocá-lo no papel nos devolve a idéia de que ele tem que ser real, nos coloca com uma forma concreta. Dizemos assim, que ele sai da sua forma ideológica e intencional, puramente, para ganhar uma forma concreta e física, e que logo será intelectual e ganhará movimento e realidade. E essa realidade, não podemos nos esquecer, é múltipla e diversa. Assim a escrita e realização de qualquer projeto vai encontrar na diversidade seu ponto de equilíbrio, para que não seja somente um ponto de vista pessoal do professor. A escrita, por ser a forma concreta do projeto...
                ...é sujeita a uma aprovação.
         A aprovação do projeto será a confluência de opiniões que partiram de diversos campos de enunciação: a do próprio professor, a da escola (coordenação e direção), da família, dos alunos, etc.
         Isto transforma o processo em algo democrático e um trabalho que não dever ser solitário, se não solidário: um trabalho em equipe.
         Observando a conceituação acima, podemos entender porque a Pedagogia de Projetos é dentro de uma visão mais moderna de ensino - aprendizagem, o sócio - construtivismo, o tipo de trabalho mais amplamente utilizado:
“Ao participar de um projeto o aluno está envolvido em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado a práticas vividas. Esse aluno deixa de ser nesta perspectiva, apenas um ‘aprendiz do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo    uma atividade complexa e que nesse processo está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento cultural.’”


"Este texto foi publicado primeiramente no site: Educamor. No mesmo site você encontrará o restante do texto com muitas formas de escrita do projeto e outras considerações sobre o trabalho com projeto."