Constante Cosmológica
(Marcelo Gleiser) 


Na luz de corpos celestes que brilham nos confins do Universo, os físicos leram uma mensagem que pode abalar a visão científica que temos do mundo. Eis a tão perturbadora afirmação: aquilo que, no âmago, mantém o mundo unido, não é estável para sempre, mas se transforma no decorrer do tempo. Precisaremos reescrever as leis da Natureza?
O artista holandês Teun Hocks encenou para a GEO a procura por respostas às grandes questões da Física, piscando com os olhos: diante de cenários que mudavam, ele entra no papel de físicos – aos quais, como aqui, continua impedida a visão nos segredos mais profundos
Às vezes, basta um pouco de luz para abalar uma concepção de mundo. Nesse caso, a luz da borda do Universo visível, enviada, 12 bilhões de anos atrás, por objetos de luminosidade extrema só encontráveis a mais de dois bilhões de anos-luz da superfície terrestre, os quasares (nome derivado de uma abreviação do latim: Quasi stelars objectus). Nessa viagem inimaginável, a luz atravessou nuvens de gás que, além de não servirem para segurá-la, nela imprimiram mensagem duradoura.
Alguns bilhões de anos mais tarde, o raio de fótons atinge um pequeno planeta rochoso chamado Terra. Capturado por um dos telescópios mais modernos então existentes, ele é submetido Pesquisadores australianos, sob a liderança dos físicos John Webb e Michael Murphy, examinaram a notícia proveniente dos primórdios do Cosmos e concluíram: trata-se de um testemunho sobre a constância das leis da Natureza.
Os cientistas encontraram uma variação minúscula na conhecida constante alfa – também chamada de constante de estrutura fina –, aquela grandeza que determina a construção dos átomos. Hoje ela se apresenta 0,0006% maior do que no passado. O fenômeno pode ser encarado como simples sopro cósmico, um desvio imperceptível para os humanos. Mesmo assim, caso a variação se confirme, é uma sensação.
Se constantes da natureza como alfa oscilam – mesmo que seja por um nadinha –, então toda a visão de mundo atual entra em oscilação. A teoria que vigora sobre o tornar-se e desvanecer-Natuse do Universo teria que ser reformulada. A teoria se baseia na certeza de que a Natureza é regida sempre e em todo lugar pelas mesmas forças – e que isso ocorre em todos os tempos. Mas, se assim fosse, deveria ter sido válida para os átomos da nuvem de gás interestelar, que entregou sua mensagem à luz do quasar.