Gênero na Escola, uma construção modificável



Resumo
Acredita-se que certos recortes do conhecimento são mais ligados ou destinados a um determinado gênero, assim como tarefas e aptidões. Cozinha e cuidado com crianças – Mulheres; Mecânica e trabalhos que requerem esforço físico – Homens; Cores, decoração e detalhes – Mulheres; Matemática, engenharia – Homens; E assim por diante.
Utilizando as ideias de separação entre Sexo Biológico, Gênero e opção Sexual, podemos compreender e acessar melhor essas aptidões físico-cognitivas para avaliar melhor o desenvolvimento de alunos e alunas de forma justa.
Convergimos as ideias de Miriam Pilar em Seu Artigo “Identidade de Gênero e Sexualidade” de de Robert Johnson em seu livro “She – A Chave do Entendimento da Psicologia Feminina” para entender a influência do gênero no desenvolvimento de meninos e meninas na escola e propor medidas para melhorar esse quadro de discriminação.




Considerações Iniciais
Por se tratar de um estudo que envolve teorias de Jung, há uma certa subjetividade em algumas interpretações ou linguagem usadas nas referencias, sobretudo quando nos referimos à mitologia. Entretanto, como se pode perceber nos estudos de Robert Johnson, as ideias levantadas por ele são perfeitamente aplicáveis em nossos estudos e na vida, não cabendo aqui reduzir seu prestígio pela ausência de caráter estritamente etnográfico na sua investigação.

Mitologia e Antropologia

Para podermos inserir o estudo de um mito em um texto de antropologia, precisamos entender a profundidade da relação que o mito tem com as descrições de uma cultura ou de um povo.
O livro de Robert Johnson escolhido para trazer o estudo do “Feminino” à luz da antropologia foi o “She – A chave da Psicologia Feminina , que pertence a uma trilogia também composta pelos excelentes He e We. Em “We” Johnson gasta um capítulo situando o mito no conhecimento humano.
Segundo ele

“(...) os mitos são também expressões simbólicas do inconsciente. Enquanto um sonho expressa o que se passa dentro de um indivíduo, o mito expressa o que se passa dentro da mente coletiva de uma sociedade, de uma cultura, de uma raça.

Um mito é um “sonho” coletivo de um povo inteiro em um determinado ponto de sua história. É como se todo o povo sonhasse junto, e esse “sonho”, o mito, irrompesse em suas poesias, canções e histórias. Mas o mito não vive apenas na literatura e na imaginação; ele logo encontra um meio de se manifestar nas atitudes e no comportamento de uma cultura, ou seja, na vida diária, prática das pessoas. (...)

Todo mito é um registro simbólico de um estágio de crescimento na vida de um povo.”
(Johnson, Robert – “We – A Chave da Psicologia do Amor Romântico)

E ainda, nas palavras de uma criança, quando perguntada sobre o que é mito:
“Um mito é uma coisa que é verdade por dentro mas não é verdade por fora”
(Johnson, Robert – “We – A Chave da Psicologia do Amor Romântico)

O autor acredita que o mito não sobreviveria por milênios se não fosse capaz de dialogar tão precisamente com nossos sentimentos. Para um bom observador, um mito pode funcionar como uma espécie de registro etnográfico colaborativo feito durante milênios e que, por sua própria dinâmica e constituição, descarta disposições temporais do comportamento de um povo e absorve as essências mais profundas em sua estrutura.

“Parece que eles [os mitos] se formam gradativamente quando certos motivos emergem; são elaborados e finalmente lapidados, à medida que as pessoas contam e recontam algumas histórias que prendem a sua atenção. Deste modo, temas que são exatos e universais mantêm-se vivos, enquanto que aqueles que tendem aos elementos peculiares de alguns poucos indivíduos, estes desaparecem.”
(Johnson, Robert – “She – a chave da psicologia feminina”)

Daí o caráter universal e antropológico dos mitos.

Gênero e os movimentos libertários

Embora exista uma tendência de movimentação libertária feminina há mais de cem anos, foi na década de 60 que os movimentos libertários começaram a estimular o estudo de gênero (Grossi, Miriam Pillar – “Identidade de Gênero e Sexualidade”). Surgem em 1968 os questionamentos sobre as pílulas anti concepcionais, a sexualidade e a virgindade.
Aos poucos percebeu-se que não era possível falar de uma única condição feminina em um mundo com tantas diferenças de classe, regionais e etárias.
“De fato, não existe uma determinação natural dos comportamentos de homens e de mulheres, apesar das inúmeras regras sociais calcadas numa suposta determinação biológica diferencial dos sexos usadas nos exemplos mais corriqueiros, como ”mulher não pode levantar peso” ou ”homem não tem jeito para cuidar de criança”.
Como a Antropologia Feminista tem mostrado, essa explicação da ordem natural não passa de uma formulação ideológica que serve para justificar os comportamentos sociais de homens e mulheres em determinada sociedade.
(…) sempre agimos como mulheres socialmente programadas, e não, como costumamos a pensar, como biologicamente determinadas”
(Grossi, Miriam Pillar – “Identidade de Gênero e Sexualidade” – grifo meu)

Até mesmo a indústria de brinquedos está revendo a questão de gênero em seus brinquedos, promovendo oportunidades iguais para meninos e meninas. Segundo Mauren O’Brien, Psicólogo de desenvolvimento entrevistado pela TIME, a maior parte das crianças não apresenta nenhuma preferência de gênero para os brinquedos até os 3 ou 4 anos de idade.

“Os garotos se divertem brincando de fazer comida (o que estimula a sua criatividade), e meninas também se divertem montando blocos (o que estimula suas habilidades espaciais).
É no ensino fundamental que os estereótipos incentivados por pais, colegas e pela propaganda começam a tomar lugar no comportamento das crianças.”
(O’Brien, Mauren - TIME)

As crianças começam a ouvir: “esse brinquedo não é para meninas”, e vão moldando seu “gênero”. E esse fenômeno tem impacto considerável sobre o segmento, o que indica que os estudos estão indo no caminho certo. Segundo Michael McNally, diretor de relações comerciais da LEGO®, a versão “feminina” do brinquedo de montar blocos praticamente triplicou as vendas da empresa em janeiro de 2012. Contudo, as cores dos brinquedos ainda dialogam com a identidade de gênero, ficando os detalhes azuis para os meninos e os objetos rosas para as meninas.

Gênero e identificação

A identidade de gênero é uma construção individual, um sentimento. Para Robert Soller (1978) todo indivíduo tem um núcleo de identidade de gênero que consiste em suas convicções pelas quais se considera socialmente “masculino” ou “feminino”.
Stoller estudou inúmeros casos de pessoas consideradas à época “Hermafroditas” ou com genitais escondidos e que, por engano, haviam sido rotuladas com o gênero oposto ao de seu sexo biológico. Segundo ele, “É mais fácil mudar o sexo biológico do que o gênero de uma pessoa”. Questionadas pelo autor a respeito do comportamento de transexuais, mulheres chegaram a dizer que as acham “mais femininas do que as próprias mulheres”.
“Aprendi a ser mulher com as drag-queens. Me fantasio para ser mulher e consigo representar esse papel por um dia. Mas depois volto para casam coloco uma roupa velha e não me sinto nada sexy”.
(Folha de São Paulo – 1994 - entrevista)
Fica claro que as questões de gênero são muito menos determinísticas e biológicas do que usamos acreditar. É fácil observar como a mulher desempenha papéis cada vez mais marcantes na história da humanidade sem que tenham sofrido mutações ou qualquer mudanças físicas importantes para isso. É claro que trata-se de uma mudança cultural em que elas ganham espaço para desenvolverem-se sem limites arquetípicos.

Gênero e a Escola – as dificuldades

Para nosso estudo, particularmente, estamos interessados nas relações entre gênero e escola.
“As lutas destes movimentos [feministas] vão refletir-se no campo acadêmico por vários fatores: primeiro porque a Universidade é um lugar de produção de conhecimento fortemente influenciada pelas lutas sociais; e segundo porque muitas das estudantes (e algumas professoras) que participaram destas lutas percebem que não existem respostas a inúmeros questionamentos destes movimentos sociais, de maneira que se inicia um movimento, no interior de diferentes disciplinas, em busca de se encontrar o lugar das mulheres, até então invisível.”
(Grossi, Miriam Pillar – “Identidade de Gênero e Sexualidade”)

Para tornar o estudo mais objetivo, vamos focar em um aspecto da diferença presumida entre os sexos: a relação das mulheres com a área de exatas no ensino médio – principalmente a Física.
Mesmo com todo o cuidado, ainda deixamos escapar preconcepções acerca das habilidades e limitações das meninas na escola. Frases como “Meninas não são boas em Física, meninos são melhores em matemática” são ouvidas pelos corredores das escolas ou ditas mesmo pelas próprias meninas na tentativa de justificar frequentes insuficiências nas matérias. Professores de física estão habituados a ouvir das meninas: “Física não entra na minha cabeça”.
Mas e as meninas que, ao contrário do que se diz, são extremamente eficientes nas exatas de uma forma geral? Será que elas são “menos meninas”? E quanto aos meninos que gostam da área de humanas e enfrentam dificuldades com as exatas? Teriam eles “perdido” a masculinidade?

Um modo de abordar essa questão é separar o “gênero” do “sexo biológico”, como Miriam Grossi faz em seu estudo. Em seguida, conforme as ideias de Jung, identificar uma “Essência do feminino” que pode pertencer tanto aos meninos quanto às meninas. Assim como o in e o yang estariam presentes em todas as coisas do universo, o “feminino” e o “masculino” poderiam existir em cada indivíduo, independente do “gênero social” ou biológico.
E é aqui que o trabalho de Jung trás reflexões esclarecedoras.

O masculino e o Feminino em cada um

Para compreendermos a visão de Jung, precisamos embarcar nas ideias de anima  e animus:
“Jung, num de seus mais profundos insights, mostra que, como geneticamente todo homem tem cromossomos e hormônios femininos, todo homem tem, por isso mesmo, um conjunto de características psicológicas femininas, que se constituem num elemento minoritário dentro dele. Da mesma forma, a mulher tem um componente masculino minoritário dentro dela. O lado feminino do homem Jung chamou-o de anima, e o lado masculino na mulher, animus.”
(Johnson, Robert – “She – a chave da psicologia feminina”)

Nessa perspectiva, não seria um engano nem uma injustiça dizer que existem aptidões claramente ligadas ao “gênero”. Podemos assumir, conforme se observa na prática, que existe uma dualidade na distribuição das habilidades e interesses conforme ser “masculino” ou “feminino”. Entretanto, segundo Jung, não poderemos atribuí-las ao sexo biológico, mas tão somente a essa espécie de “essência” presente em todos nós. Daí concluímos que, sim, existem aqueles alunos mais afeitos à matemática e outros nem tanto, mas eles podem ser menino ou meninas.
Segundo Robert Johnson, cada um tem em si um núcleo feminino e masculino. Em algumas pessoas, um ou outro está mais desenvolvido, dando a elas características típicas do “masculino” ou do “feminino” em suas ações e habilidades.

É interessante como o comportamento das pessoas endossa esse modelo. Quando percebemos em uma mulher uma característica “masculina” bem marcante, frequentemente ela apresenta outras que, com o tempo, serão percebidas pelos que convivem com ela; é comum a menina que tem um pensamento objetivo e segmentado como o dos “homens” também ter mais facilidade em dirigir, por exemplo. É como se a “essência masculina” na mulher viesse em um “pacote” com vantagens e desvantagens.

O Feminino na Mitologia

Robert Johnson diz que o feminino primitivo, na mitologia, é representado por Afrodite, que nasceu dos mares e de lá reina inconsciente. Os mares sempre foram o símbolo da inconsciência, e Afrodite espelha esse mistério insondável do feminino primitivo.
“Na realidade, vê-se Afrodite em toda parte. No super mercado ela coloca o carrinho bem no meio do corredor, como querendo dizer: “se não for me cortejar, ao menos me dará um encontrao”. Assim é 
Afrodite.

É muito embaraçoso para uma mulher de nossos dias, razoavelmente inteligente, descobrir sua natureza Afrodite, cheia de truques primitivos e instintivos.
(...) A velha natureza de Afrodite é regressiva e puxa o ser de volta para a inconsciência, ao mesmo tempo que a força a entrar em uma nova vida, algumas vezes com grande risco”.
(Johnson, Robert – “She – a chave da psicologia feminina”)

As meninas “mais meninas”, ou seja, aquelas cujo animus (masculino interior nas mulheres) se encontra adormecido, apresentam, em seu estado mais imaturo, as características de Afrodite. Até mesmo nos namoros as meninas vivem uma fantasia criada por Eros (o Deus do amor criador de paraísos que mora em cada homem sedutor). Frequentemente se encantam mais do que deveriam e se envolvem perigosamente em relacionamentos por que vivem as sensações em um estado hipnótico tal qual ao de um náufrago.

Esse tipo de envolvimento profundo, subjetivo e inconsciente não combina com a assertividade, sequidão e dureza da matemática e das ciências que requerem atenção concentrada e segmentada. Uma fórmula que sempre leva um mesmo sistema a um mesmo resultado não é o tipo de forma a que as Afordites estão acostumadas em seu reino interior. Para elas, o mundo está longe de ser descrito por modelos exatos, e não conseguem estabelecer conexões firmes entre seu universo e aquilo com o que precisam operar para passar na prova na escola.

Entender a psiquê feminina pode ser uma chave não só para entrar na mente da “mulher”, mas também para compreender o feminino em cada homem.

Depois de compreender o “Genero” de uma forma mais densa, devemos pensar em modifica-lo para melhor. Robert Stoller acredita que os papéis do gênero são passíveis de mudança.
“(...) o núcleo da nossa identidade de gênero se constrói em nossa socialização a partir do momento da rotulação do bebê como menino ou menina. Esse núcleo não se modifica ao longo da vida psíquica de cada sujeito, mas podemos associar novos papéis a essa “massa de convicções”.”
(Robert Soller - 1978)
Na prática de Ensino

Uma aluna diz ao professor que “Física não entra em sua cabeça”. Se pudermos fazer algumas perguntas e investigar as causas da dificuldade, chegaremos a mais características de Afrodite na aluna, além daquela de não conseguir estabelecer o apego material aos conectores e operadores das disciplinas exatas. Além de ter dificuldade com as contas e fórmulas, ela também pode ter dificuldade de saber onde parou o carro depois de rodar na feira; ao comprar um notebook, pode ser mais ligada à cor e o design dele do que às suas especificações técnicas; pode ser que prefira os filmes que lidem com nuances de sentimento (os filmes mamão-com-açúcar) do que aqueles que retratem força e heroísmo (Heróis da Marvel);
Não adianta pedir a essa aluna que repita mil vezes o exercício se ela continuar tentando entende-lo com Afrodite. Ela precisa encontrar o Eros que mora dentro de si para dialogar com esse conhecimento.

Despertando o animus

O primeiro passo para se enfrentar qualquer dificuldade é conhece-la. A escola não é exatamente um espaço para lidar com as questões subjetivas e particulares de seus alunos em seus íntimos, mas pode ser um instrumento de descoberta desses seus arquétipos. Aceitar uma dificuldade conhecendo as virtudes que a compensam torna mais fácil encará-la.

É possível que essa aluna entenda que, se trabalhar o masculino dentro de si, qualquer que seja o aspecto dele, terá como consequência uma diversidade de “habilidades” do “masculino” aflorando de seu interior.

Trabalhar o masculino em um relacionamento afetivo, por exemplo, surte efeito nas preferências de lazer e também nas aptidões intelectuais; A mãe que é obrigada a assumir o papel do pai ausente diante dos filhos frequentemente adquire habilidades masculinas como força, noção espacial, vigor, objetividade e desapego; a mulher que escolhe trabalhar com lutas frequentemente não compreende a importância que as amigas dão ao tom de rosa na hora de combinar o sapato com o cinto; a menina que está se formando em Física raramente se importa em sair do trabalho e ir tomar uma cerveja com os colegas em a chance de passar em casa para arrumar o cabelo e se maquiar.
Com isso não se diz que a menina tornou-se um menino, mas que ela consegue “operar o mundo” como se fosse um, quando lhe convém. E o faz através do Animus.

O professor Terapeuta – Aplicando o Mito no Ensino

Num caso terapêutico, a menina Mariana (nome fictício para preservar a identidade) não conseguia se dar bem em Física. O professor-terapeuta, em um acompanhamento domiciliar, começa a acessar seus limites cognitivos e investigar suas habilidades. Nesse momento, descobre que a menina é extremamente criativa, gosta de desenhar, é sedentária mas gosta de dança e se diverte nas aulas de literatura na escola; tem horror à violência, não acha graça no futebol e sofreu com os últimos namorados por que o relacionamento era mero detalhe para eles enquanto representava tudo para ela.
“Lembro-me de uma senhora que me disse ter chorado por vários dias quando descobriu que seu casamento era um mero detalhe na vida do marido, enquanto que para ela representava toda a vida. Havia descoberto a natureza Eros, a natureza fabricante-de-paraísos de seu Cônjuge.”
(Johnson, Robert – “She – a chave da psicologia feminina”)

O professor então tirou o foco da disciplina e orientou-a a procurar familiarizar-se com elementos do universo masculino. Ela começou a andar mais com o irmão e com os primos, aprendeu um pouco das regras de jogo de futebol ao assistir algumas partidas, começou a exercitar-se e a assistir “filmes de menino”. Embora todas essas atitudes fossem absolutamente artificiais a princípio, elas foram capazes de ir “acordando” um certo núcleo interno masculino na Mariana (Ânimus).
O resultado fascinante foi que ela naturalmente começou a amadurecer a atitude diante da matemática e da Física, embora em momento algum tenha manifestado gosto pelas disciplinas, além de começar a entender e aceitar um pouco mais o funcionamento da mente masculina – o que atingiu até mesmo sua vida afetiva.

Ela apenas tinha aprendido que, para “conversar com a Física”, tinha que falar a língua da Física – e o mesmo com o namorado. E a Física, na forma que ela adquiriu no ensino brasileiro, é uma ciência essencialmente yang, ou seja, projetada, competitiva, exata, modelística e fracionada. Não adianta querer tocar bateria com arco de violino.

Conclusão

As ciências exatas estão fortemente ligadas ao Masculino e dialogam muito bem com ele; o feminino tem uma visão de mundo diferente daquele modelado na Física, criando barreiras à apropriação da linguagem pobre, segmentada e seca que é usada nessa ciência.
Os estudos do feminino definitivamente podem ajudar meninos e meninas a se darem melhor com as exatas, desde que se disponham a fazer mudanças internas mais profundas e que estejam também preparados para as consequências.

Através da interpretação do mito de “Amor & Psiquê”, Robert Johnson mostra como os arquétipos do masculino e feminino são detalhadamente investigáveis em analogias.
Na história, Psiquê é uma jovem tão bela que é reverenciada por toda a cidade, mas, de tão bela, jamais é cortejada. Preocupados com seu destino (a possibilidade de nunca se casar), seus familiares vão em busca do oráculo. Vendo uma oportunidade de vingar sua inveja, Afrodite prepara uma armadilha, fazendo com que o oráculo ordene a entrega da bela jovem, vestida de branco, ao monstro horrendo da noite no alto de uma colina.
O desrespeito ao oráculo poderia trazer infortúnio a toda família, e logo eles se puseram a realizar a recomendação do Oráculo. Eros, (Deus Amor ou Cupido) era filho de Afrodite foi enviado pela mãe com a incumbência de envenená-la com uma flecha, fazendo-a apaixonar-se pelo monstro e diminuindo assim seu sofrimento.
A cerimônia de entrega de Psiquê é exatamente a entrega da noiva ao noivo no altar. Os mesmos elementos: menina pura de branco, monstro negro à espera no altar/colina, família chorando de luto, grande transformação da fortuna da família, caminhada pesada e lenta ao altar e morte. Mas a morte, aqui, é a morte da menina.
Mas Eros acaba se machucando com a ponta de usa flecha ao ver tamanha beleza de Psiquê, e se apaixona por ela. Nesse momento ele a sequestra e leva para sua casa, dizendo a ela que teria o direito de viver entre os Deuses com todas as mordomias, mas teria que concordar em jamais perguntar a ele por onde anda e nunca o olhar nos olhos.
Paro com a história por aqui por entender que já temos elementos suficientes para entender a força desses elementos. Eros, representando o papel do homem, tem uma forma de lidar com a vida que é bem típica do masculino infantil.
“Todo Eros imaturo é um fabricante de paraísos. É típico do adolescente tomar uma jovem e prometer-lhe felicidade para todo o sempre. Esse é o Eros, a nível secreto; quer ter seu paraíso sem as responsabilidades que isso implica e sem um relacionamento consciente.”
(Johnson, Robert – “She – a chave da psicologia feminina”)

Os problemas relacionados à linguagem científica transcendem o ambiente escolar, e se quisermos acessar o desenvolvimento cognitivo de nossos meninos e meninas de forma mais ampla, precisamos ficar atentos ao olhar que eles têm do mundo e suas disposições internas.